segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Elisa

Me perguntaram recentemente porque eu escrevo tão pouco aqui no blog. E minha óbvia resposta foi que não acontece nada interessante para me fazer querer escrever. Depois, parei pra pensar se isso é mesmo verdade e me dei conta de que um dos eventos mais aguardados do ano para mim passou despercebido e não compartilhei nesse meu espaço. Era 4 de dezembro, eu ainda estava no trabalho, sexta a tarde e minha mãe me liga gritando nos ouvidos que eu havia me tornado titio. Elisa nasceu de cesariana, branquinha como meu irmão e um tanto parecida comigo. Ou seja, linda de morrer. É a criança que a família não tinha há doze anos. Minha primeira sobrinha, talvez única porque meu irmão já anunciou que não quer outro filho. Eu sou o único tio que ela terá. Dediquei uma página de meu diário ilustrado para Elisa, estou programando minha ida ao Rio para o mais rápido possível e passei a querer muitas coisas.
  1. que Elisa reconheça em mim o tio mais especial da face da Terra, pois não sou careta, mas também não a quero metida nas confusões em que eu me envolvo vez em quando;
  2. que eu possa ver de perto os anos dela se passarem, não gostaria de ser apresentado a minha própria sobrinha ano após ano;
  3. que eu viva por tempo suficiente para abraçá-la aos quize, após a formatura da faculdade, quando ela me der um sobrinho neto;
E o mais importante de tudo: sempre gostei de crianças, não é de hoje que meu relógio biológico apita no meu subconsciente que está na hora de pensar em ter um filho. Elisa me fez querer isso com muito mais certeza. Não importa se essa criança vai ter os meus olhos, o meu sorriso, meu nariz ou se vai ser uma dessas prontinhas pelas quais a gente se apaixona a primeira vista e tira de uma casa cheia de outras crianças para lhe proporcionar vida melhor numa família de verdade. Assim como Elisa, essa criança vai olhar para mim e ver muito mais do que um carente,pouco usual, meio doidinho que adora se divertir e exagera na dose de vez em quando. Assim como Elisa, essa criança vai ver um homem que precisa de amor. Só amor.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Just friends

Minhas duas grandes amigas se mudaram de Brasilia e eu meio que estou sozinho de novo... Detesto despedidas. A Ju deixou a casa. Não ficou um sutiã pra contar história. Só resta a memória de tudo o que a gente passou, das garrafas que a gente tomou, da fechadura que a gente quebrou, do barulho da Honey na cozinha e das festinhas, as festinhas... O Bill não vai mais sujar o banheiro e inundar o AP inteiro. Onde a Fabi vai ficar bonita agora? E o seu vôo, Ju? Já tá na hora? Eu não queria que você fosse embora mas a vida não vai te esperar. E você promete que volta? Volta pra mim. Vem pra cá. Eu jurei que não ia chorar. Não ficou um salto pra contar história Mas a memória. Ah! A memória... A Alê deixou a casa. Não ficou um violão pra contar história. Só resta a memória de tudo o que a gente passou, dos cigarros que a gente fumou, das histórias que a gente contou, do Henrique arranhando a cama e a saudade de quem se ama Ninguém vai quebrar xarope no banheiro e inundar o AP inteiro. Como eu vou conseguir ser noivo agora? E o seu vôo, Alê? Já tá na hora? Eu não queria que você fosse embora mas eu sei que você quer casar E você já disse que não volta Eu vou praí Vou te encontrar Eu te jurei que não ia chorar. Não ficou um DVD pra contar história Mas a memória. Ah! A memória...

domingo, 15 de novembro de 2009

Agora eu o vi... Duas vezes. Conversamos distraídos porque disfarcei uma série de sensações. Desejou-me boa viagem e eu viajei que ele iria me procurar como um louco. Afinal de contas, agora eu uso moicano, sandálias de couro, tenho cavanhaque, estou oito quilos mais forte, muito mais seguro, mais maduro. De repente isso assusta demais, não é?! De repente ele que não é mais para mim mesmo e eu é que devo me convencer disso. Mas como pode alguém te deixar apaixonado por quase seis anos e simplesmente se mostrar completamente desencanado de você? Como pode ele não ligar, não adicionar no orkut, não querer acompanhar meu twitter? Pois é, ele não quer...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Voltando a casa

Eu nunca escondi de ninguém o tanto que gosto de Brasília. Falo isso sempre pra minha mãe, a quem o orgulho firo sem pensar toda vez que repito e a faço imaginar que jamais voltarei para a barra da sua saia. Eu tenho orgulho de morar entre pessoas civilizadíssimas, politizadas, numa cidade inteligente, organizada e segura. Eu não queria esperar chegar ao Rio, chegar a casa da minha mãe, chegar a minha terra natal para dizer isso, mas não deu tempo em meio a tantas coisas que eu tinha para fazer para a viagem. Queria aproveitar a conexão em Guaralhos (cerca de meia hora) para escrever porque eu não podia esperar para dizer isso depois que já estivesse aqui. Daí, meu vôo foi trocado para um direto, mais cedo, e não precisei me encher de remédios para suportar o decola, pousa, decola, pousa das conexões. E eu cheguei. E agora, meia madrugada, como em todas as ocasiões em que escrevo, eu digo: quero voltar para cá. Quero voltar para sempre. Não quero mais a plena independência e o total desapego a família, não quero mais perder um ano inteiro da vida dos meus pais, não quero deixar de ver a Elisa crescendo, não quero pagar interurbano sempre que for falar com o Tadeu. Quero o litoral, o Arpoador, as barcas. Quero a máquina de lavar, a Babilônia, queimar 40 graus na febre do calor, quero o Amarelinho, o Odeon, as bandeiras coloridas, as pessoas quase sem roupa, quero voltar a achar normal entrar de havaianas e bermuda no shopping, quero sorrir mais, quero viver melhor, quero voltar pros meus e pro meu lugar. A verdadeira casa, mesmo que meu espírito cigano me dêapenas alguns anos antes de me inquietar novamente e me formigar o corpo inteiro para mudar de novo. Me aguarda Rio que, em um ano, eu volto de vez...

sábado, 26 de setembro de 2009

Jornal de hoje

Parei no sinal hoje de manhã e veio um cara me oferecendo o Correio Braziliense de hoje. Eu nunca compro jornal, mas como ele insistiu muito (era o último exemplar- acabando ele poderia ir embora) e eu ainda tinha uns trocados, resolvi pegar. Chamou minha atenção uma notinha bem curta na primeira página sobre um beijo homossexual que virou caso de polícia. Página 38. Lá vou eu conferir a matéria e fiquei até surpreso porque dava quase uma página inteira. Mas, na verdade, nem considerei um beijo homossexual. Dois amigos gays em um bar hetero. Um deles beija a face do outro e o gerente vem à mesa pedir que se comportem. Depois de uma discussão eles são convidados a deixar o lugar e resolvem prestar queixa. Seria um assunto muito interessante pra mim se, antes de ler a matéria, eu não tivesse visto o anúncio da missa de 7 dias de falecimento do meu ex- paciente- aquele do jantar com paella. Eu fui demitido há um mês. E ele morreu na semana passada. Eu nunca compro jornal. Eu não me lembrei que ele já foi presidente dos diários associados do Correio Brasiliense. Eu nem me toquei que hoje completam sete dias. E na mesma página em que está a única matéria que eu quis ler, veio o convite para a missa. Isso mexeu um pouco comigo. Eu tinha muito apreço por ele e por quase todos da casa. Tenho descansado muito e aproveitado todas as minhas horas de folga para fazer coisas para mim, mas sinto falta dele e das noites em que passei lá. Tinha que dizer isso nem que fosse só aqui. Enfim, não dava pra expressar em 144 caracteres... Quando eu me sentir mais preparado, conto porque saí de lá, porque não fui ao velório nem ao enterro semana passada e porque não vou à missa de hoje.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

07/09

Eu estou um pouco quebrado de grana este mês. Precisei sair do meu outro emprego e isso mexeu um pouco com meu orçamento apesar de me entregar de presente muitas e muitas horas a mais para eu dedicar a mim apenas. Não só por isso fiquei em casa o domingo e o feriado inteiros- já estudei, já fiz minha pesquisa para o livro, já ensaiei no violão, já visitei pornografia na internet. Daí, comecei a pensar em como sou dependente de uma companhia para fazer as coisas de que gosto. Meus grandes amigos de infância moram no Rio, uma amiga daqui mudou-se para São Paulo há uns dois meses, outra está lá também a passeio, não falo mais nem com o Fabio nem com o Bill e o grupo de amigos mais próximos (uns dez ou quinze) não atende ao telefone. Não era pra ser o dia da independência? Eu não vivo falando que sou independente e não preciso de ninguém? Belo discurso hipócrita. Mas não é por isso que estou aqui registrando meu fim de semana. A grande pergunta pra mim, nesse momento, é por que eu simplesmente não quero ligar para a única pessoa que sei que esta livre e vai me atender? Por quê? Meio sem resposta apesar de eu achar que sei os motivos. Nesse caso é melhor eu pegar o carro e passar no mercado para comprar objetos de uma outra dependência que tenho, voltar para casa e beber até o sono chegar...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Só penso em você

Daí que eu fiquei um tempo sem escrever porque estava com vergonha de contar pra vocês que o Vitor e eu brigamos. Eu quis até me dar alta da terapia e passar a me consultar com um pai de santo- meu problema só podia ser espiritual! É meio desagradável uma semana contar pra minha psicóloga que conheci (ou reencontrei) alguém muito legal e, na semana seguinte, com a cara mais lavada do mundo dizer a ela que aconteceu que não deu certo. Há uma semana eu apresentei o Vitor a uns amigos não muito próximos pra fazer um levante da opnião dos outros. Não que eu precise da opnião dos outros nesses casos, mas serviria de termômetro antes de torná-lo mais íntimo dos amigos de verdade. Foi um dia maravilhoso, numa chácara longe, churrasco em comemoração a nada e ele e eu o tempo todo juntos. Tentei lhe dar a maior atenção possível- já que anteriormente isso não tinha acontecido- e ele fez daquele dia realmente feliz pra mim. Quando nós saímos de lá- cheios de más intenções acerca do próximo destino da noite- aconteceu de uma das amigas de verdade me ligar chorando e pedindo pra eu pegá-la do outro lado da cidade. Ora, isso nunca tinha acontecido antes então pareceu muito sério na hora. Daí, veio a sucessão de erros: eu poderia ter permanecido calmo, poderia ter prometido ligar pra ela em cinco minutos e perguntado a ele como faríamos pra resolver o problema, poderia tê-lo deixado a par da situação antes de, sozinho, tomar a decisão. Mas eu não fiz. Sou um cara sozinho, estou acostumado a resolver tudo sozinho e acabei dizendo a minha amiga que estaria lá em meia hora e, desligando o telefone: "Vitor, já era o programa, vai ter que ficar pra próxima." Aposto que ele se sentiu o mais diminuído dos seres humanos, aquele que não representava nada para mim, aquele que estava abaixo de todos na escala de importância sentimental da minha pessoa. Resultado: ele fez uma cena que foi um terço razão, um terço egoísmo, um terço infantilidade. Bateu a porta do carro quando eu o deixei em casa e uma semana depois me descascou de esporro no msn. Eu me desculpei, pedi pra enterrar o assunto, me coloquei no lugar dele e nada deu certo. Frustrante, não? Uma bobagem, nem sequer uma briga, a primeira divergência de opniões e foi tudo por água abaixo. Valeu a pena deixar acabar assim? Sem direito ao tiro de misecórdia? Não. E eu não estaria contando pra vocês se já não tivesse um final feliz. Mandei um recado offline via msn me retratando seriamente. E me senti muito bem assim- fui maduro, fui insistente e tive a sensação de ter feito o que podia. Hoje, há mais ou menos uma hora atrás, recebi uma mensagem no celular. Do Vitor "Só penso em você"...

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Vitor

Gosto muito de reencontros inesperados. Dão-me a sensação de que o destino tencionou algo, que o anjos tem um plano e Deus existe. Lendo o texto anterior, vocês não só entenderão como darão razão para o fato de eu haver me endurecido para o amor num esforço fora do comum para parecer forte e não mais permitir que me machuquem. O problema é que, por muito tempo, confundi essa coisa de ser muito seguro de mim e achar que não preciso de ninguém com uma pequena vingança particular contra quem não tinha nada a ver com meu sofrimento. E pior, contra quem nem mesmo merecia. Faz mais ou menos uns dois anos e eu conheci a pessoa mais especial que existe (tanto que nem sei se existe mesmo). Apareceu para mim num fim de festa, quase sol raiando e, numa rápida troca de olhares, lá íamos nós trocar amasso e números de telefone. Cinema aqui, festinha ali, uma pegação dentro do carro e eu me vi aceitando o pedido de namoro de alguém que eu não queria. Lógico que não levei a sério minha vida de compromisso e continuei me comportando como o solteiro mais vagabundo do pedaço. Fora isso, minhas habilidades para me livrar dos outros incluem uma reação muito peculiar às excentricidades alheias: tudo me incomoda e cada mínimo defeito é suficiente para eu querer pular fora. De uma hora pra outra, o talzinho foi me causando cada vez mais estranheza com seu jeito de ser. Enchi o fulano de chifre e sem nenhum critério para esconder dele. Ainda não tinha lido o manual do adúltero e acabei me deixando ser pego no flagra algumas vezes. Magoei demais essa pessoa e ele se foi. Reencontrei há um ano (acho!) no fim do show da Paula Toller. Encontro rápido, umas palavras só e pronto. Depois disso nunca mais. Nunca mais até sábado de madrugada no fim do show da Preta Gil (ele sempre aparece no fim de alguma festa...), na fila da boate para pagar a comanda e, depois de uma conversa muito constrangedora (nunca me senti a vontade com ele depois de toda maldade que cometi), aconteceu o beijo e aceitei sua carona. Ele chegou da Flórida há um mês onde passou o último semestre trabalhando, está com o cabelo curtíssimo e me contou todas as mazelas de sua temporada sozinho no exterior. É, definitivamente, outra pessoa. Muito mais maduro, mais engraçado, mais seguro, mais independente. Tudo o que eu não gostava nele sumiu e tudo o que eu gostava permanece. Daí vocês vão dizer “Bem feito! Agora, vê se aprende com isso e para de sacanear as pessoas boas porque elas, um dia, voltam ainda melhores e você fica chupando o dedo pensando como seria se ainda estivesse com ele.” Certo? Errado! A maior qualidade que eu vi numa pessoa como o Vitor, eu só vi nele. Ninguém parece ver o mundo de forma mais clara, ninguém parece ser mais tranqüilo com relação aos rumos da vida. Ele disse que me perdoa e consegue ver as mudanças que ocorreram em mim, o que passou já foi e o importante está acontecendo agora. Estamos nos vendo todos os dias e está sendo, como diria a Valéria, uma forma mais madura de me apaixonar. Não estou louco de amor, mas sei a diferença entre não ter nada em que pensar e passar o dia com a mente ligada no sorriso, no olhar, nas caretas de alguém. Só não vou ficar muito tempo imaginando como vai ser daqui pra frente porque é melhor me concentrar nesse momento tão sublime. Como o próprio Vitor filosofou ontem “A única coisa real é o agora. O passado já foi e o futuro não existe ainda”.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Globo repórter

Dentre todas as pessoas da minha idade, nesta encarnação, eu devo ser o único que está em casa, sexta-feira à noite, assistindo o Globo repórter. Mas a matéria de hj é sobre um assunto que eu entendo muito bem: infidelidade. Hehe- os dois lados da moeda. Eu podia escrever um manual inteiro sobre isso. "Os homens traem porque querem sexo enquanto as mulheres traem porque buscam o carinho que não tem em casa." "O horário de maior movimento nos motéis é durante o almoço." "Trair é quebrar um acordo preestabelecido entre o casal." Já tá quase no fim e ainda não me disseram, no programa, nenhuma novidade! Pra começar, a única pessoa que namorei, dos 18 aos 21 anos, me encheu de chifre- tanto e tantas vezes que bastou um rapaz mais engraçadinho aparecer na praia pra ele se aproveitar da vantagem que tinha, pelo fato de eu morar em outro estado, para me trocar por uma pessoa que morava muito (mas muito) mais longe- na Alemanha! É, vocês entenderam bem: Alemanha! Pode isso? Eu fui fiel por quase dois anos nesse relacionamento. Traí quando passei a morar distante- lá pelos últimos quatro meses. Minha desculpa é que houve momentos em que ele não poderia estar comigo e eu realmente precisava do colo de alguém. Minha mágoa é que, do contrário dele, eu nunca me envolvi. Nunca troquei telefone. Nunca fui além de um encontro pra aquecer a cama e minha alma solitária. Tudo bem que estou romantizando o adultério quando o justifico dessa forma, mas afinal de contas, estou falando de mim, né? O fato é que me arrependo de ter traído. Não me levou a lugar algum, não conheci alguém que pudesse substituir o amor que perdi, não existe compensação nenhuma no sentimento de vingança, não posso jogar na cara do meu ex que a culpa foi dele e só dele. Porque na verdade foi mesmo e é uma culpa que se estende por muitos e muitos anos além daquele oito de janeiro em que ele terminou comigo. Exemplos: eu sonho com ele até hoje e, sempre que acontece, acordo num susto, encharcado de suor. Faço terapia porque não consigo esquecê-lo. Tenho preconceito com gente muito branca ou qualquer coisa que me lembre a Alemanha. Não consigo me relacionar com ninguém sem que o fantasma do passado se erga com sua sombra dominadora. Acabo usando as pessoas e sofro, sofro, sofro. Dói imaginar que errei em algo, que faltei de tal forma a ponto de fazê-lo querer buscar calor em outros braços. Dói saber que ele está até hoje com essa pessoa, feliz e satisfeito, enquanto eu vivo sonhando com um tempo que já foi. Muitos dos meus textos aqui, referem-se ao Tony. Minha música fala claramente dele e da forma como terminamos. Ele povoa meus pensamentos todos os dias. Não há uma só pessoa que me conheça e que nunca tenha ouvido falar dele. Alugo mesmo o ouvido dos meus amigos! Mas acho que essa coisa de escrever mexe demais com a gente. To analizando aqui e... Poxa, como ainda posso querê-lo depois disso tudo? Vou pedir pra Valéria encerrar o ciclo! Mas antes, deu aqui no Globo Repórter que infidelidade comprovada pode gerar processo com pedido de indenização. Fiz umas contas aqui e acho que o crime dele ainda não prescreveu... Hehe. Licença aqui, mas eu preciso ligar pro meu advogado...

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Comer rezar amar

Às vezes, eu entro numas ondas de ler best-sellers, para entender o fascínio coletivo que esses livros geram ao redor do mundo. Na última tentativa, deparei-me com o (não excelente) mas muito interessante Comer, rezar e amar de Elizabeth Gilbert, sobre si mesma e o período que passou logo após o traumático divórcio, o sofrido relacionamento que usou de muleta e um ano que viveu viajando em busca de prazer, devoção e equilíbrio. Na introdução, ela fala de como percebeu a coincidência de, numa viagem de autoconhecimento, ter escolhido justamente três destinos que começam com a mesma letra “I” (Itália, Índia e Indonésia) e que esta letra significa “eu” em inglês. Em seguida, explica como aconteceu de aprender italiano (idioma que ela considera lindo) e engordar onze quilos nos melhores restaurantes da Itália. Como foi passar quatro meses enfiada num templo indiano, aprendendo a meditar e conhecer Deus e depois outros quatro meses em Bali, buscando o equilíbrio entre a vida mundana e a devoção espiritual. Equilíbrio esse que veio justamente com o amor já que, na Indonésia, nossa autora/ aventureira/ viajante apaixona-se inesperadamente por um brasileiro. Resolvi tratar deste livro aqui para citar os trechos que mais me chamaram a atenção. Cheguei a separar uns quinze trechos bem interessantes. Estranhamente, à época, pareceram bem mais interessantes do que hoje. Estranhamente, só achei que valesse realmente a pena transcrever dois trechos de “rezar” e um de “amar” que, na verdade, só fala de sexo. Por que será, hein? “(...) o simples ato de acreditar é um ato de fé, porque nenhum de nós conhece o desfecho. (...) Fé é mergulhar de cabeça e em velocidade total rumo à escuridão. Se de fato conhecêssemos previamente as respostas sobre o sentido da vida, a natureza de Deus e o destino de nossas almas, nossa crença não seria um salto de fé e não seria um corajoso ato de humanidade; seria apenas... uma prudente apólice de seguros.” “Deus vive dentro de você como você mesmo, exatamente da maneira como você é. Deus não está interessado em ver você executar uma pantomima de personalidade, de forma a corresponder a alguma idéia maluca que tenha sobre aparência ou o comportamento de alguém espiritualizado. Nós todos parecemos ter uma idéia de que, para sermos sagrados, precisamos operar alguma mudança imensa e dramática em nosso caráter, precisamos renunciar a nossa individualidade. (...) a cada dia, as pessoas que renunciam encontram algo novo a que renunciar, mas que, em geral, o que elas conseguem é uma depressão, não a paz. (...) Para conhecer Deus, você só precisa renunciar a uma coisa- a noção de que é algo distinto de Deus. Fora isso, simplesmente permaneça como foi criado, dentro do seu caráter natural.” “Sentir-se fisicamente a vontade com o corpo de outra pessoa não é uma decisão que se possa tomar. (...) Ou o misterioso ímã está presente ou não está. Quando não está (como aprendi no passado, com devastadora clareza), não é possível forçá-lo a existir, assim como é impossível um cirurgião forçar o corpo de um paciente a aceitar um rim do doador errado. Minha amiga Annie diz que tudo se resume a uma simples pergunta: ‘Você quer a sua barriga encostada na barriga dessa pessoa para sempre ou não?’”

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Jantar

Bom, nem todo mundo sabe, mas minha vida é atribuladíssima, sobretudo porque além das aulas de música e noitadas, eu trabalho em dois empregos. Um deles é- uma noite sim e outra não- como "home care"- termo utilizado para identificar aqueles profissionais de saúde que cuidam de pacientes, geralmente idosos, na casa deles. Meu paciente tem 86 anos de idade, leucemia controlada, precisa de transfusões sanguíneas quinzenalmente, faz fisioterapia três vezes na semana e toma por volta de vinte comprimidos por dia. Eu costumo ser muito compreensivo com as necessidades dele- mesmo quando acontece de eu estar dormindo na minha poltrona e ele me chamar quatro vezes, na mesma noite, pra usar o banheiro. Meu paciente é riquíssimo e sei disso desde a primeira vez que o vi. Primeiro que a casa dele é enorme, no metro quadrado mais caro de Brasília- seus vizinhos são empresários, delegados, políticos... Depois que existem fotos espalhadas pela casa inteira das viagens que ele fez com a esposa pelo mundo afora. Ele também é muito lúcido e conversador. Extremamente culto- lê três jornais diferentes por dia e me presenteia a cada plantão com a estante repleta de livros fabulosos- um deleite para minha distração favorita. Todos na casa são muito simpáticos e agradáveis comigo- fora a esposa dele e uma neta que são arrogantes por natureza e não dão confiança a ninguém mesmo. O caso é: às vezes, esse meu emprego me leva a passar por situações que me desconcertam bastante, como essa noite por exemplo. Jantar de aniversário de uma amiga deles- casada com um ex-ministro, que não sei o nome, na casa deste casal. E esse jantar começou pra mim por volta das quatro da tarde, quando recebi uma ligação no meu celular e era a empregada do meu paciente alertando-me sobre o evento e sugerindo que eu me preparasse com uma roupa mais apropriada para a ocasião. Até aí, sem problemas- eu me sinto o homem mais poderoso do universo quando me visto mais social. Coloquei minha melhor camisa de botão, engraxei meu sapato, peguei um blazer emprestado e saí chiquérrimo uma hora antes de começar meu expediente noturno. Passei no salão pra fazer as unhas e troquei a bateria de um relógio que há muito estava encostado mas que combinava bem com meu cinto e deu um ar mais importante à minha "beca". Cheguei na casa de meu paciente, troquei sua roupa, acompanhei-o até a porta e o coloquei dentro do carro para, enquanto dava a volta no veículo, ouvir o seguinte conselho de sua filha mais nova: - André, quando chegar lá, você fica mais distante, um pouco assim ao largo para ele não se sentir constrangido perto dos amigos e poder conversar mais a vontade. Tudo bem, problema nenhum nisso, aliás era mesmo o que eu tencionava fazer. Quando chegamos ao endereço do evento, coloquei meu paciente no sofá e sentei uns três metros de distância- quase em outro ambiente da sala e passei a observar. As pessoas chegavam e me olhavam ali sentado, sozinho. Ora, eu sou branco, olhos verdes, cabelo cortado, barba muito bem feita e, afinal de contas, usava um blazer. Sem exceção, todas as mulheres de pele esticada que entraram naquela sala hoje disseram algo do tipo: "Esse eu não conheço", "Tudo bem? Você cresceu, hein?" ou "Quem é esse menino bonito?". E eu respondia "Sou o enfermeiro do Dr. Fulano". Em seguida, sem exceção, todas as mulheres de pele esticada, olhavam pra frente e seguiam para a recepção. E eu fiquei ali. Sentado. Sozinho. Poderia ser facilmente confundido com um daqueles quadros ou uma daquelas cerâmicas ou uma daquelas esculturas de gosto duvidoso. Um adorno a mais na sala. Eu passaria por alguém da família, mas o rótulo de "praticamente um operário" me excluiu daquele seleto grupo de pessoas importantes. A paella foi servida e eu não comi. Não, até o garçom, muito mais sensível do que qualquer um daqueles que gastaram fortunas em cursos de etiqueta, convidar-me para fazer um prato e comer na cozinha. O momento alto da noite. Fiz amizade com a cozinheira, ri e contei piada, bebi cerveja e vinho (bom pra cara**o) e fumei escondido. Sem problemas, né? Fiquei naquela mansão pouco mais de três horas e, além de trocar mensagens no celular e exercitar minha paciência e diálogo interior, aprendi sobre como tratar os outros. São os ossos do ofício, para não perder o conveniente clichê. Minutos depois, meu paciente manda recado de que quer falar comigo. Ao pé do seu ouvido, eu pergunto se ele precisa de alguma coisa. - Você jantou? - Jantei sim, doutor. - Ah, bom. Aproveita, não é sempre que a gente come paella. E eu lembrei os motivos de não largar esse meu emprego. Porque convivo noite sim, noite não com um ser humano fantástico, porque vejo nele o tipo de homem que eu quero ser, porque recebo dele, todo o carinho que lhe dou- não porque sou ético demais, mas sim grato.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Ed

Desculpa por eu não ter ligado, não ter comparecido e muitas vezes ter feito você sentir que era o único que queria. Mas é que eu não estou acostumado a procurar e meio que esqueci como agir quando alguém me procura. Você me surpreende assim. Desculpa por eu não considerar a possibilidade de você também ter as suas inseguranças e achar, no meu íntimo, que eu merecia e precisava de mais carinho, sendo que você nem me deu pouco. Desculpa por eu não ter transado, mas essa é bem complexa. No começo, eu não queria mesmo. Depois eu achei que, se eu não fizesse, você poderia ver em mim um diferencial e achar que, por isso, daria certo. Das outras vezes, aconteceu de um de nós estar bêbado demais. Isso te fez falta- eu imagino- e deu a impressão de que sou infantil ou idiota, ou pior! que não sinto tesão em você- e nenhuma dessas é verdade. Desculpa eu ter sentido certo alívio quando você começou a me evitar. Mas assim, eu me senti dispensado do inevitável, iminente constrangimento de terminar com você. Na minha cabeça isso invariavelmente aconteceria porque eu não sei lidar com relacionamentos, não tenho estrutura para me reeguer após o término de outro namoro, não deposito fé no "felizes para sempre". Agora, se você puder aceitar minhas desculpas... se você puder confiar que tentarei não cometer mais esses erros... fica comigo.

sábado, 13 de junho de 2009

My sweet Valentine's day

Sou um solteirão muito do convicto e extremamente satisfeito com a orgia da vida. Mentira, né. Na primeira frase, eu vi que nao conseguiria levar o texto todo nessa linha de raciocínio. Até porque, mesmo se fosse verdade, tinha aí o danado do dia dos namorados pra me fazer lamentar o fato de não ter alguém. Sao coracões e figuras apelativas em todo comércio do universo, gente te perguntando quais os planos para mais tarde, tudo faz lembrar um clima de romance e tranquilidade e você imaginando como seria se ele nao tivesse saido pela porta e fechado teu corpo para quase todas as formas de amor. Aperece gente maravilhosa na vida, mas não é o mesmo cheiro, nem a mesma textura da pele, nem fala com o mesmo sotaque, nem trata você com a mesma delicadeza. Daí o jeito é deixar essa pessoa maravilhosa passar e curtir o momento- uma vida inteira não e mais do que um monte de momentos. Satisfaça-se com isso: não dá para ser feliz uma vida inteira, só por uns momentos. E, se aparece aquele que, por um mínimo detalhe lembra o bandido de outrora, dá um frio na barriga, um medo descontrolado e uma vontade de fugir da situação como o diabo foge da cruz. Deus me livre passar por todo sofrimento de novo, não é pra isso que estou gastando uma fortuna com terapia... Tenho uma amiga que diz que eu tenho habilidade para me livrar das pessoas. Foi a matéria mais útil que já aprendi. É por isso que saio um pouco de mim no dia dos namorados. Viajo pra São Paulo- que não me lembra dele, hospedo-me em um hotel bacaninha- coisa que nunca fizemos juntos, sento sozinho para jantar num restaurante com reserva- muito chique, inclusive. E fico olhando todos os casais do mundo que se reuniram entre si e resolveram ir ao mesmo lugar para exercitar minha inveja e maltratar meu coracão. PS: Como disse, estou em hotel com internet e computador que não conheco e nem entendo muito bem, depois eu corrijo o texto. Desculpem hehe... PS2: Texto corrigido!!!!

terça-feira, 19 de maio de 2009

Oito de janeiro

Ela entra na sala sem que eu perceba Acende um cigarro Senta na minha poltrona predileta E começa seu sombrio questionamento Eu me recuso a responder Mas fico remoendo aquilo na minha cabeça Eu preferia que você não tivesse voltado Que não me sufocasse sem sair do lugar
Onde eu estava oito de janeiro? Por que estou sozinho de novo?
Ela é silenciosa e educada
Mas implacável e ameaçadora
Ela me diz o que não quero ouvir
"Você achava que havia tanto amor que
simplesmente não acabaria da noite para o dia?
Que era questão de tempo até baterem na porta e,
fora de si de tanta remorso,
imaginando se já não seria muito tarde para reivindicar a você,
lhe suplicassem por perdão?"
Onde eu estava oito de janeiro?
Depois, ela oferece proteção
Me leva até a varanda
E me faz querer cair através da rajada de vento
De alguma forma e bem depressa
isso facilitaria tudo.
Por que eu estou sozinho de novo?
Onde eu estava oito de janeiro?

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Guia André Aires de saúde

Não use travesseiros muito altos ou muito baixos. Mantenha a coluna ereta quando estiver no computador. Não digite por muito tempo sem descanso. Não fique muito próximo da tela. Faça alongamentos e exercícios de relaxamento regularmente. Não coma carne vermelha, carne porco ou gordura "trans"- angina, obstrui veias e artérias, enfarto e obesidade. Não coma doces em excesso- carie, diabetes, celulite. Não experimente cigarro- vicia, tosse, câncer. Não beba- vicia, deprime, cirrose. Não transe sem proteção- herpes, sifilis, Aids. Tome doses diárias de vitaminas. Atravesse na faixa. Não ultrapasse a velocidade permitida. Seja moderado, contido, retraído. Compreenda toda a fragilidade do ser humano e proteja o seu corpo, seu templo, seu reduto. Permaneça envolto nessa carapaça. Jamais saia de casa, da casca, do ninho. Mantenha-se vigilante em suas orações. Todo esforço é inútil sem Deus para te livrar de rubéola, caxumba, leucemia...

terça-feira, 5 de maio de 2009

Poeta Inspirador

Faz tempo que não ouço Legião Urbana, mas como também considero Renato Russo um dos meus poetas inspiradores, resolvi deixar aqui a música do momento... Não achei no youtube um vídeo decente da banda tocando... Fica aqui a letra (Só o que me diz algo de verdade) hehehe

Mais do mesmo

Ei, menino branco

o que é que você faz aqui?

Subindo o morro pra tentar se divertir

mas já disse que não tem

e você ainda quer mais

Por que você não me deixa em paz?...

Desses vinte anos nenhum foi feito pra mim

e agora você quer que eu fique assim

igual a você

E mesmo, como vou crescer?

Se nada cresce por aqui?

Quem vai tomar conta dos doentes?

(...)

Como é que você se sente?

(...)

Ah, bondade sua me explicar

com tanta determinação

exatamente o que eu sinto, como penso e como sou

Eu realmente não sabia que eu pensava assim

E agora você quer um retrato do país

Mas queimaram o filme...

(...)

UPDATE: "também" (linha 1) porque esse texto refere-se ao texto homônimo de Tadeu Lima em naofuiavisado.blogspot.com

domingo, 26 de abril de 2009

Saudade

Queria que você fosse um mal partido

Que ainda mais tivesse me traído

Mas não me pusesse de lado

Que você tivesse empobrecido

Que virasse um bandido

Mas não tivesse me contrariado

Qualquer coisa que acontecesse contigo

Seria melhor do que eu ser rejeitado

Queria que você tivesse adoecido

Que tivesse morrido

Mas não me deixado

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Então

Então,
não vou te acordar domingo às oito meia, querendo conversar.
Agora sei que você não entende minha solidão.
Não vou tomar o inibidor de nicotina que o médico passou.
Ele mesmo disse que eu tenho que estar determinado.
Não vou mais esperar um ano feito pra mim.
Não vou pensar em como me sinto.

Todos os dias

Então, um amigo que mora longe, de quem recebo notícias principalmente- ou quase exclusivamente- por aqui me disse que está postando todos os dias. E está mesmo. Ele já começou outros blogs e parou, já começou faculdade e parou, já começou Inglês e parou, já tentou parar de fumar e parou de tentar. Mas ele ainda está aqui e empenhado mesmo. Me fez querer postar todos os dias também, mas ao mesmo tempo que as coisas não param de acontecer, parece que não acontece nada. Ah, mas aconteceu: Minha cunhada está grávida- vou ser tio pela primeira vez e o único desse- que eu tô torcendo que seja- menino! Uma das poucas pessoas que eu ainda admirava em Brasília fez questão de me envergonhar na frente de umas dez pessoas- ele estava bêbado, mas nisso não há novidade nenhuma! Fui a minha consulta com psquiatra hoje- não que eu ache que preciso, mas a psicoterapia que ele indicou pode ser bacana. Se acabar a inspiração, eu paro. Estou cada vez mais insatisfeito com meu trabalho. A música está me fazendo mal sob este ponto de vista. Quero dizer, muito dificilmente vou conseguir sobreviver dela, mas a vontade de jogar tudo pro alto e sair por aí com o violão é muito grande. O medo também não é novidade. E o que não aconteceu: Nem por um sábado, deixei de alimentar meus vícios destrutivos. E, onde você lê sábado, entenda que houve feriadões e fins de semana prolongados. Nas últimas três semanas, trabalhei um total de nove dias apenas, por isso bebi muito mais! Nem por um momento, me senti um pouquinho apaixonado por alguém. Vou acabar me acomodando desse jeito. Triste, né? Por favor, Tadeu, não pare. Pelo menos não antes de mim.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Vontade vazia

Você diz que conheceu outros dois e que um deles era perfeito. Assim, vc me deixa sem jeito, sem ter o que falar. Eu confesso que dei uns beijos, assim, sem caprichar na qualidade. Só pra satisfazer minha vaidade e não acordar sozinho. Mas, falando em massagear o ego, você, jurando que foi sincero, queria só que eu soubesse. A sua verdade não me engana, estou acostumado a fazer a cama e ver outro se deitar. Não se comporte como meu ex que, assim, eu sumo de vez. Dá vontade de matar. É uma vontade vazia mas é bom que não se esqueça. Ainda encho de óleo fervente uma bacia e derramo na sua cabeça

terça-feira, 14 de abril de 2009

Untitled

Olha, há dias ele não troca de roupa Faz meses que não se poupa Que não se poda Olha, tem cortes no pulso Marcas no braço Unhas roídas Não tem que ser assim Ainda não chegou ao fim Ainda há espaço Há o terraço e não vai doer nada Olha, ele toma remédios pra dormir Arruma o cabelo pra sair E pede pros amigos Olha, não fala como tem sido Com quem eu tenho saído Não conta pra minha mãe Por que não me tranqüilizo? Vivo correndo perigo Diz que ainda há tempo E, desse momento, não sobra nada

domingo, 5 de abril de 2009

Lá menor

Um pote de sorvete. Um rolo de papel higiênico. Não passei na locadora. Sábado à noite, não tem nada na TV. Não vou morrer de câncer antes desse maço acabar. Não tem mais graça pegar o carro e correr na rua. Não quero ver gente. Não quero beber. Não quero a lua. O livro que não leio. Nenhum CD que presta. Tudo o que me resta é pegar o violão mas, nem isso faz sentido Não vou ter um colo amigo pra deitar minha canção. Ele não sabe se vem. Nesse descaminho, fico só. Não acho o cinzeiro, me perco inteiro. Faço uma música em Lá menor Recorto lembranças e rasgo papel. Minha garganta dá um nó. Não passei no mercado, mas acho que a farmácia era melhor. Pego o telefone mas não vou discar. O número decorado, tatuado no meu calcanhar. Na porta, só bate a chuva. Não que ser gente. Não quero comer. Não quero bagunça. O velho não veio. O novo não dá festa. Faço uma seresta de doer o coração, mas nem isso faz sentido. Não vou ter nenhum abrigo. pra esconder minha aflição. Ele não sabe o que tem. Não adianta secar meu suor. Penso nisso o dia inteiro. À noite, em desespero, faço uma música em Lá menor

sexta-feira, 20 de março de 2009

Meu filtro solar

Caminhe descalço na grama.
E, nu sempre que puder.
Leia todos os livros que conseguir.
Vá ao cinema, ao teatro,
assista TV.
Ouça sua música preferida
quantas vezes quiser
mesmo que isso canse os outros.
Você não precisa plantar uma árvore
mas também não tem que arrancar folhas das que já existem.
Não mate formigas.
Não passe o tempo.
Geralmente, é a mesma coisa que perdê-lo.
Viva um dia de cada vez,
mas lembre-se de todos os que já passaram
e pense em como podem ser os que ainda estão por vir.
Sorria sempre e chore.
Escute e fale pouco.
Converse com idosos.
Brinque com crianças.
Não jogue fora o álbum de figurinhas que você conseguiu completar.
Dance. Cresça. Sinta saudade.
Acredite. empenhe-se sem muito esforço.
Escreva um diário.
Pense na vida. Seja.

domingo, 1 de março de 2009

10 motivos para não ficar com ele

Eu sento nu na janela do apartamento Sou observado pelas senhoras no ônibus - Eu me entrego a amantes desconhecidos. - Sou fútil, urgente, despreocupado. - Sinto dúvida, culpa, dor. - Perco as horas e o espaço. - Tenho coriza. - Tenho catorze reais e algumas moedas. - Não teria começado a fumar. - Não trocaria o dia pela noite. - Não me perguntaria tantas coisas inúteis. - Não sei se isso vai passar. É tudo culpa dele...

sábado, 28 de fevereiro de 2009

A voz da igualdade

Ontem, eu assisti ao excelente "Milk- a voz da igualdade", em cartaz nos cinemas, com Sean Penn- perfeito no papel que lhe rendeu o Oscar e dá título ao filme. A história real se passa entre 1970 e 1978, quando o aspirante a cormeciante Harvey Milk, indignado com o descaso e preconceito das autoridades ante as atrocidades cometidas contra a população homossexual de São Francisco, resolve se candidatar a um cargo político para defender os direitos das minorias- mulheres, negros, estrangeiros e gays, principalmente. Dois aspectos me chamaram muito a atenção no enredo: como algumas coisas mudaram de lá para cá e como outras permanecem as mesmas. Para ambas reflexões, eu digo -Infelizmente. Infelizmente, religiosos fervorosos ainda acreditam que os homossexuais são desordeiros depravados que tencionam destruir a unidade familiar. Políticos relutam em aprovar leis que garantam plenitude dos direitos civis de homossexuais. Professores são afastados das salas de aula em função de sua orientação sexual e em detrimento de sua capacidade de lecionar. Revistas de circulação nacional publicam capas de casal de homens, militares, porque ainda é polêmico discutir esse assunto. Verdadeiros grupos organizados agridem gays violentamente e, muitas vezes, matam com requintes de tortura. Há discriminação em casa, no trabalho, nas ruas. E os homossexuais continuam se valendo dos redutos criados especialmente para eles, afim de viver o que mais se aproxima de um romance em público. É o relacionamento dos guetos, a vida clandestina dos marginalizados. Ainda hoje, são realizadas passeatas com a finalidade de buscar igualdade. Mas, em trinta anos, o que mudou é que, agora, elas tem data marcada e deixaram de expressar um rompante de revolta pela reprovação de alguma lei que favoreceria os homossexuais ou pelo ataque agressivo de skynheads a adolescentes gays. Hoje, elas se tornaram eventos de grande vulto e apelo, super produzidos, onde a arrecadação é suspeita e a motivação também. Não há megafones, pessoas em cima de caixotes, multidões atentas aos discursos ou arrepiantes ovações que desmonstram fé e esperança. Mas há trios elétricos, música dançante, propagandas de boates, vendedores de cerveja e muita gente interessada no leque de possibilidades devido ao grande número de pretendentes. Infelizmente. "Milk"foi apresentado em uma sala quase vazia. Fosse há trinta anos, haveria toda a sorte das categorias classificadas pelas iniciais da sigla que não pára de crescer (GLS, GLBTS, GLBTTS...) fazendo fila na porta do cinema e esgotando ingressos para assistir e conhecer mais de sua inspiradora caminhada. Os gays mudaram. Os opressores continuam os mesmos.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Tem Mais Samba

Chico Buarque

Tem mais samba no encontro que na espera

Tem mais samba a maldade que a ferida

Tem mais samba no porto que na vela

Tem mais samba o perdão que a despedida

Tem mais samba nas mãos do que nos olhos

Tem mais samba no chão do que na lua

Tem mais samba no homem que trabalha

Tem mais samba no som que vem da rua

Tem mais samba no peito de quem chora

Tem mais samba no pranto de quem vê

Que o bom samba não tem lugar nem hora

O coração de fora

Samba sem querer

Vem que passa

Teu sofrer

Se todo mundo sambasse

Seria tão fácil viver

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Não vou falar do Fábio

Fábio lembra promessas que eu sei que são vãs que eu não posso lembrar Fábio lembra excessos que eu sei que são péssimos que eu não quero lembrar Fábio lembra maldade que lembra raiva que lembra vingança que lembra matar Não vou falar do Fábio que lembro do carro lembro do sábado do telefone tocar Fábio lembra a cidade que lembra a noite que eu não preciso lembrar

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Então, agora vai ser assim. Não vou mais me interessar em fazer novos amigos. E também não vou me importar quando os atuais resolverem jogar suas pedras em mim.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

LEIA BEM DEVAGAR! Faz pouco mais de dois anos Quase vinte e cinco meses Noventa e nove semanas Seiscentos e noventa e três dias Contei um por um Esperei cada um deles passarem "Aguardei a chegada do próximo" Dezesseis mil, seiscentas e trinta e duas horas Embora algumas delas eu tenha passado dormindo Não deixei de sonhar com você

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O final de Catarina

A novela acabou sexta- feira com um significado especial para Catarina e para mim. A personagem de Lília Cabral era a melhor de todas, na minha opinião (depois da Flora, é claro). Já repararam o que se passou na sua trajetória desde o começo da trama? 1) Ela era casada com um homem rude, estúpido, que a tratava como empregada- quando não como a um cão sarnento- e que chegou inclusive a bater nela- pelo uma vez que eu tenha visto. 2) Ela se cansou, separou-se, conseguiu um emprego e, depois, vendo que o marido precisava muito dela, reatou o relacionamento. Nesse momento, ela já era uma mulher diferente que não aceitava mais de forma tão submissa todas as coisas ruins que o marido fazia. 3) Por ser uma novela que tratou os assuntos de forma muito séria, é lógico que ele não chegou a mudar nem um pouco depois da ausência de Catarina. Ela separou-se novamente e dessa vez para não voltar mais. 4) O dono da quitanda, que era apaixonado por Catarina desde o início da novela, pediu-a em namoro, proporcionou-lhe o melhor sexo da vida dela e marcou para logo a data do casamento. 5) Na véspera, Catarina chamou-lhe no canto e lhe disse, em resumo, algo como: "Você me mostrou o mundo e é extamente por isso que eu não posso casar com você. Agora eu sei a dimensão de todas as coisas e não posso me prender a você sem antes viver plenamente tudo o que existe." Na última cena, Catarina, agora dona de restaurante, se despede da família, entra no carro e vai com a amiga lésbica em direção ao aeroporto, de onde seguirá para Buenos Aires. Convenhamos, a partir do que o histórico da teledramaturgia brasileira nos apresenta, que nenhum personagem da chamada "turma do bem" chegou ao último capítulo sem um par romântico. Nem que para isso surgisse, na última hora, o homem perfeito ou a mulher mais gostosa, que vinha do nada, só para que o público não sentisse pena do tal bonzinho que não merecia terminar solitário. Catarina veio para mostrar que não é preciso ter alguém. O feliz para sempre dela aconteceu porque estava realizada com o trabalho, em paz com a família, feliz com sua amiga e cheia de uma incontrolável fome de viver. Ora, também quem se convenceria que ela ia ter tranquilidade ao lado de um homem, se o tempo todo não teve? Catarina lutou a novela inteira para ser feliz, casada com o marido- é uma perseverante. Deu mais uma chance ao homem da sua vida, mas não abaixou a cabeça- uma romântica cheia de dignidade. Catarina largou tudo para viver coisas diferentes, enfrentando a hipocrisia de sociedade que a cercava e a criação que recebeu- uma corajosa! O final de Catarina disse muito para mim. O que acontece quando a gente namora? Você cortou o cabelo, fez o jantar e locou o filme que o outro está querendo ver há um tempão e não reparam- dá vontade de morrer. Você vai naquela festa onde todos os seus amigos estão e o outro, sorrindo e bebendo, não sai daquela roda cheia de gente "interessante"- dá vontade de matar. Fique solteiro mesmo e vá conhecer Buenos Aires. Se você sentir falta de alguma coisa, respire fundo, arrume o cabelo e siga em frente. O maior amor do mundo deve ser o próprio.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Você

Você é o que há de bonito
de concreto e aflito
na capital do país.
Com todos os seus poderes
esses olhos tão verdes nunca disseram o que eu quis.
Você é água do lago
sempre tão diferente
mas a gente aprende a lidar.
E caminhar ao seu lado
é a coisa linda
que eu posso imaginar.
Aquele que canta
encanta os meus roteiros.
Ilumina a vida.
Sol o ano inteiro.
Faz de Brasília o meu Rio de Janeiro.
Aquela que encanta
canta os meus letreiros
Passa na avenida.
Um passo certeiro.
Faz de Brasília o mundo inteiro.

Ele

Ele veio, sorriso estampado Chegou devagar, quase atrasado E te fez duvidar Romântico, interessado Ficou do seu lado O banheiro não pode falar Um lobo malvado Um tanto atordoado Bebeu e não quis se drogar A luz, o som, o efumaçado E aquele homem tatuado Você ajoelhado A um passo de acreditar Teu sol nasceu quadrado Você acorrentado Prometeu que ia ligar Mas seria um achado Realmente um caso raro Se isso fosse confirmar Feito um disco arranhado Você espera sentado Esse dia não virá Mas não fique magoado Não se mostre preocupado Que outra noite vai chegar