quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Starving Eyes

Quando você entra no bar
E acende seu cigarro
Você encara quem te interessa com olhos famintos
Mas você pega outra cerveja
E isso vai subindo pra cabeça
Até você perder a compostura
Você tira a camisa
E expõe sua tatuagem mal feita
Mas é porque aqui faz muito calor mesmo
Você dança como se fosse a última vez
E não pára de gargalhar nunca
As horas passam e você nem repara que amanheceu
Daí você fecha a cara e tenta não tropeçar lá fora
À luz do dia você prefere não parecer tão vulgar
Você olha os garotos
E chora porque não consegue mais que uma noite
Eu não acho que você esteja procurando alguém bacana
Você só se preocupa com o corpo, com o carro
Você analisa os sapatos deles
Não podem estar sujos de barro
Você jamais ficaria com alguém que não more em um bairro nobre
Mas você é muito divertido
E está sempre cercado de muitos fãs
E não sei se é porque você estava muito alto
Ou se você realmente não é legal
Você me chamou de covarde
E disse que eu sacaneei a sua amiga
Mas você não quis tomar conta dela primeiro
Pensa nisso antes de atirar suas acusações
E seu cachorro-quente nos outros

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Trancelim

Guarda as pegadas que faço E eu te levo na memória Escreveremos nossa história Sem saber como dar o laço Quis gastar os dedos nas contas do teu rosário Abri as portas do meu armário para te mostrar a confusão Nos trançamos como uma teia Meu sangue corre na tua veia E não sabemos mais onde termina um e começa o outro Aos teus pés meu mundo inteiro Admira-te o mundo que dizes admirar Nossa liberdade nos marcou cicatrizes que lembram como doeu conquistar Prefiro te escrever minhas idéias amarelas Destranco pra ti as minhas janelas E não entendo quando tens que te ausentar Não existem estradas para (os) nós Andamos entre desvios Protege as pegadas de vento e chuva Que teu rosário será sempre meu desafio

Ser bom de novo

Meu quarto vive em completa desordem. São sapatos em todos os cantos, folhas de papel que não acabam mais, livros nos lugares mais inusitados e roupas espalhadas pelo chão. Já achei possível mantê-lo limpo e organizado. Já juntei vassoura, criatividade e disposição, mas não consigo conservar algo diferente de mim por mais de dois dias. Não era assim quando eu morava com minha mãe. Decerto que ela me obrigava, periodicamente a arrumar a bagunça daquele pequeno pedaço da minha vida mas, desde que sai de casa, perdi o controle sobre todos os outros cacos também. E quem disse que eu poderia tudo sozinho? Aliás, tenho ouvido falar sobre a pessoa que me tornei desde que me deixaram sozinho: muito agressivo, cheio de auto defesas. Eu sei que, na verdade, estou me acabando velho, vazio e secando. Meus sonhos murcharam com uma flor e não consigo sequer empilhar folhas de papel. Todos os sapatos, livros e roupas se espalham porque eu já não junto mais os meus pedaços. E, se vem alguém que preciso impressionar, faço de conta que ainda sou aquele de outrora. Cato todas as coisas largadas no caminho da cama e entulho dentro do guarda-roupas. Mas também não dura dois dias... Eu sou meu próprio quarto. Tem boa aparência pra quem chega, mas no fundo é uma desordem.

Tempos de tempestade

Dias ruins começam com um bolo na véspera. Defitivamente. Depois se seguem dormir mal, acordar atrasada, chegar depois do chefe e descobrir que o processo que você ficou fazendo em casa até meia noite e precisa apresentar impresso até às dez da manhã, ficou gravado em um disquete que não abre. Você reza pra pegar o mais rápido possível uma alergia perversa que vai deixar seus lábios do tamanho de uma laranja e a pele vermelha que nem um tomate, pra ficar na cara que você realmente tem um problema e precisa de uma dispensa para ir ao médico.Lila sabe bem o que é isso. E o que ela costuma fazer nessas situações é desenvolver um curioso colapso nervoso sintomático de respiração ofegante, dislalia e dor de barriga. Para dias ruins, Lila sugere um galinho de arruda, sempre a postos, para o caso impossível de não conseguir reclusão em domicílio, repouso de doze horas e abstinência de qualquer estreitamento com o mundo exterior, seja ele uma simples conversa por telefone. Que dirá sobre contato sexual(?) como suas amigas gostariam que tivesse feito no fim de semana. Lila adora ser a amiga solteira de meninas que namoram. Pois essas sempre saem com os namorados e a convidam para ir junto. Lógico que os namorados das amigas preferem um momento a sós, mais íntimo, e por isso levam junto seus amigos solteiros para apresentar à Lila. Apesar de dias ruins no escritório- um lapso pois Lila é muito esforçada e eficiente- ela não pode reclamar que não esteja apostando alto na loteria do amor. E agora sim, investindo em vários bilhetes.Tudo bem que tudo tenha dado errado hoje. Tudo bem que ela recebeu um bolo na véspera e em seguida uma promessa não cumprida de encontro. Isso pode significar muitas coisas, inclusive que ele simplesmente não está afim dela. Mas apesar de tudo, Lila quer deixar bem claro que não tem nada a ver com fato de Fábio ter se separado da esposa...

Tempo da delicadeza- Ponto de vista número dois

Apesar de andar sempre muito atarefado também, não quero o tempo da delicadeza... Muito marasmo e repetição de idéias. Quero movimento e ansiedade, frio na barriga e a sensação de que o coração está tão acelerado que pode parar a qualquer momento... Quero me apaixonar até doer, quero conhecer, descobrir, desvendar. Não quero tempo para roubar ventos, procurar espinhos na clareza da água, criar peixes coloridos no fundo dos bolsos. A imagem que se apresenta é belíssima, de um bucolismo sem medida, mas só me vejo sozinho nas metáforas. E me proibo me acostumar- quiçá gostar- dos vazios e dos infinitos. Carregar água na peneira... Sentimento trabalhoso. E por demais infértil. Quero preencher vazios e, definitivamente, ser amado por meus despropósitos...
Ninguém é perfeito Mas como pode ser tão bem feito Se tem um defeito assim? Fez faltar o pão na minha mesa Apagar minha chama acesa E emudecer o meu clarim Tive vontade de me esconder no mato De apertar o meu sapato Me acabar no botequim Desfaleci meus sentimentos Me entreguei a pensamentos Que não tiveram mais fim Quis me entregar ao choro Quis que não houvesse socorro Quis me perder de mim Quis que vivesse ao meu lado Mas que coisa, tem namorado E eu fiquei cor de carmim Fumei algum cigarro Quando não sobra nenhum pedaço Quero ser todo ruim Mas vou catar calor em outros braços Caminhar pra criar laços Com quem não me ache tão chinfrim

Lila

Lila é uma garota inteligente e esperta. Lila foi educada para ser boa esposa e mãe. Lila está aguardando a chegada de alguém que possa ser seu marido e pai de seus filhos.Lila é muito educada e dedicada ao seu trabalho. Acorda cedo pra tomar banho e café da manhã. Sai de casa pontualmente. Lila nunca se atrasa pra um compromisso. Lila adora o ambiente do escritório onde fica até às cinco da tarde. É organizada e tem respostas na ponta da língua. Trabalha com computadores e pessoas. Sabe exatamente como lidar com máquinas, mas não tem a mão muito boa para pessoas. Lila acha seu chefe uma graça e olha para o traseiro dele vez por outra. Lila pensou um dia que precisa de um homem urgentemente. E resolveu romper umas barreiras. Largou na cama o livro que lia e deixou comida na vasilha para seu gato. Lila botou uma roupa provocante e maquiou o rosto. Saiu sozinha para o bar, pediu uma bebida e acendeu um cigarro. Era o comentário do bar: a tragada mais sensual que já viram... Lila passou frio essa noite. "Provocante demais" pensou e riu. E ria de tudo. Os outros observaram seu corpo arrepiado e os espasmos musculares que sentia. "Ela deve estar excitada ou nos excitando...". Definitivamente estava sendo paquerada. Olhares masculinos, sobrancelhas arqueadas... O batom de Lila começou a arroxear, combinando com as suas unhas sem esmalte. A vista de Lila escureceu e ela acordou no hospital já curada da hiportemia e do álcool. Sem ninguém do bar que a levara para o médico. Só uma noite em observação e ela pôde, no dia seguinte, pagar a conta e receber alta. Lila não vai pagar esse mico novamente. Mas recebeu uma dica essa semana e decidiu aproveitar, já que perdeu a dignidade mesmo, pra romper barreiras maiores. Agora Lila vai dar um mole horroroso pro seu chefe- a bunda mais empinada do escritório...
Eu esperei o dia passar Pra saber que nossa história não teria final feliz E quando o sol do novo dia despontar Vou ouvir essa canção que eu mesmo fiz Você sabe que é errado Você faz e não quer saber Que o meu coração despedaçado Já foi tão maltratado E agora mesmo por você Você diz que é verdade Me lava os olhos de saudade Mas não posso acreditar Te esperei minha vida inteira E você me deixa no fim da feira Tendo tanto pra arrumar Sei que foi por maldade Mas que você tenha a bondade De me reparar o coração Que o seu tom saia do fundo do peito E que você tenha muito respeito Quando cantar essa canção
Ele queria ser rei Queria ser general Mas viu que não podia ser Permaneceu igual Ele queria ser pai Queria muito ser herói Mas a vida se desfaz E o torna seu próprio algoz Ele queria ser tudo Sempre estar e tudo ver Tantas as voltas do mundo Agora ele não pode mais ser Ele queria ser livre Queria cada vez mais Hoje nem sabe se vive Morreu e não descansa em paz

...Em tous temps

Brasília é um gelo nessa época do ano. Hoje eu tomei um banho frio pra despertar. Do sono e do sonho. Do sono que sinto por minhas noites mal dormidas, por meu trabalho que me consome, minha dor que não cessa e pela boemia que não consegui abandonar como muitas vezes prometi. Do sonho que tive de ter pra mim um anjo que não quer. Não quer ser anjo, não quer ser meu. Que me disse não ter asas mas voou pra tão longe que não pude alcançar. Voou tão alto que me escapou das mãos. Escorreu meu sonho como essa água fria que me adormece o corpo. Me fez despertar da vontade que tinha de vê-lo, da saudade que queria sentir, dos encontros que desejava acontecessem, do anseio que nutria em não ver meus dias passando simplesmente, sem objetivo, da necessidade que tenho de me saber vivo, de ter esperança. Levou consigo tudo o que havia. E minha ilusão foi sugada pelo ralo, roubada de mim a única coisa que restava, o último recurso ao qual me agarrei com todas as forças, desesperadamente. E, violento, se foi sem molhar suas asas. Sem ebriar o seu vôo. Sem olhar para trás. Sem pena de mim. Brasília é um gelo nessa época do ano. Hoje eu tomei um banho frio pra despertar. Lavar a alma... Lavar a alma...

Quando estou com você

Que eu seja sempre puro como quando estou com você. E justo, honesto, sincero. Que eu mantenha seguro e ensolarado meu sorriso. E faça iluminar as noites alheias. Porque minha presença inspira os demais quando estou com você. Que eu seja sempre bonito e compreensivo. Mas que me torne esperto e atencioso. Porque estar com você me distrai, me desajeita, me desajusta. Fico falando sozinho, dizendo o que não devo, fazendo o que não posso. Que eu saia sempre de mim quando estiver com você. E que me emocionem as propagandas de cerveja e os filmes de comédia. Que me atentem os problemas de verdade e me inspirem as utopias. Me perturba estar com você. Também anima, desperta, enlouquece. Que eu seja sempre o que sou quando estiver com você. Mas só quando. Porque você sai e esfria, escurece, dói. Em fisgadas, marteladas e não passa. Que eu me sinta sempre curado como quando estou com você. Que todas as minhas angústias e aflições se percam. E eu não pense em mais nada. Que eu te tenha por momentos eternos e que estes se repitam e reflitam sempre o que nós somos. Que eu seja seu e tenha o mundo nas mãos. Que eu viva para sempre e lute para não desistir. Que eu seja sempre bom como quando estou com você.

Só!

Não fui só um passatempo para as três semanas de folga de alguém. Não fui uma pessoa que passou simplesmente pelas horas de outra. Não fui algo que aconteceu e só. Disso tenho certeza. Ou nisso quero sinceramente acreditar... Mas o que sou agora? Uma lembrança? Vaga lembrança? Como se pode sair da vida de alguém e não ligar mais? Apenas responder as mensagens como se fôssemos amigos só? Só... Acho que esse é nosso problema. Conhecemos um alguém super bacana que se mostra hiper interessado e passa altas horas conversando a passamos a querer tirar dali algo que vai ser demais, pra vida toda talvez. Mas, no fim... É só! Não estou decidido quanto a isso ainda. Nem sei exatamente o que pensar ou fazer. Mas "só" pra mim costuma ser pouco. Prometi a mim mesmo que jamais iria me relacionar com alguém que só poderia me oferecer migalhas. De tempo, de atenção, de respeito. É, no mínimo desatenção com meus sentimentos não se dar ao trabalho de escrever uma mensagem no celular. Uma vez, eu tava atolado no trabalho e não tinha tempo nem pra sair da minha sala para ligar. Eu escrevi uma mensagem que dizia mais ou menos assim: "Meu anjo, não estou com tempo de falar mas resolvi mandar essa mensagem pra dizer que te adoro e estou pensando em você." Simples não é? E não é pouco por sinal. Gostei dele de verdade... Mas acho que todos os homens deveriam ser como eu.
Noite no bar, veio do aeroporto. Cumprimentou a todos a foi estrela. Festa de aniversário. Comeu, bebeu e soluçou. Pediu um cigarro. Só se você me der um beijo... Queria muito um cigarro. Música, cerveja e comida. O samba embalava olhares e os corpos tremeram ao se tocar. Novo beijo, sem negociação dessa vez. E outros beijos. E todos os beijos do mundo. Foi pra casa dormir. Foi estrela do dia e deixou seu cheiro no edredon. O telefone lhes permitiu um dia inteiro de bate papo. Passeio no shopping. Dois amigos. Mc Donald's, salada. Saciavam as vontades de beijo sempre que não podiam ser vistos. Não quero pensar que você precisa ir. Não posso minimizar esse momento por medo do quanto será ruim sem você. Foram para casa e saciaram outra vontade, aquela que não se sabe porque dá ou como vem... Lua de mel na cidade pequena. Choro, ronco, remela, mau hálito. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Foram estrelas da vida nas noites em que uma só estrela dá. Me surpreenda. Vinho, queijo e batata frita à beira do lago. Altas horas. Compreende a importância que isso terá na minha vida? Muitas estrelas e a sensação de... Não sei. O que acho melhor em você é poder te desvendar aos poucos. Descobrir devagar as coisas que tem guardadas aí dentro. Aumentava a necessidade de se ver, de estar. Como nunca antes. Como nunca mais. Faltou ao trabalho. O tempo agora escorria pelas mãos. Cruel o tempo que não se pode deter. Adiou a passagem. Comemoraram nas mesas de bar, nas águas do clube, nos ritmos do show, nos lençóis do quarto. E a música sempre embalando. Som e milhares de estrelas. Pegou uma virose e foi pro hospital. Três dias de cama. Os dois apenas e os versos de Chico Buarque. Deixou uma carta, não de amor mas de entrega, total entrega. Foi para o aeroporto e chorou no carro. O outro chorou num canto. Sumiu. Deve estar voando ainda. No céu ainda. Onde as estrelas costumam estar.

Obituário

Há dezenove anos, no estado do Rio de Janeiro, nasceu o menino mais bonito que podia haver para seus pais. Amavam e cuidavam com muito zelo e dedicação. O menino, com o passar dos anos, ouvia de seus pais que precisa estudar para conseguir um bom emprego e ter uma vida estável: casado, com filhos, cachorro, numa casa própria, gozando a maravilha de sair toods os dias pela manhã cedo para seu trabalho (de preferência no seu próprio carro do ano) e chegar dele à tarde, receber o beijo da mulher, o abraço das crianças, as lambidas do cachorro e assistir à novela meio dorme-não-dorme. O menino aprendeu com seus pais a importância de ser honesto e verdadeiro, de não esconder suas origens ou negar suas vontades, suas intenções. Diziam que ele sentiria medo, às vezes, mas era preciso enfrentar os problemas com coragem e fé, não perder nunca a esperança e a confiança em si mesmo. Ele era capaz- um ser humano em potencial- sabia oprque ouvia de seus pais. Tão logo o menino atingiu a idade limite, passagem entre a adolescência e a maturidade, sua mente encheu-se de interrogações. Confuso, foi acometido pelo medo. O ácido medo que corrói, impede, limita, inibe e mata um pouco mais todos os dias. Que menino é esse que não quer casar? Não pensa em filhos nem pode seguir a mesma profissão do pai porque simplesmente não tem vocação? Nenhum menino que conhecia era assim. e ser diferente significa ser excluído, sacrificado, vítima de todos os preconceitos e ódios. Estava preparado para tudo isso? Não! Era melhor aceitar as exigências da sociedade e viver uma vida medíocre, infeliz, ao lado de quem não ama, com quem não quer, por quem não luta. Seria melhor mesmo? E desabafar com quem? Que diferença faria? Qual seria a eação das pessoas? Como o tratariam depois de constatar suas diferenças? Ficaria alguém do seu lado? Seus pais? Alguém...? Não havia ninguém. E o menino ficou durante muito tempo sozinho, inflando dentro de si o desejo de gritar, fazer com que escotassem seu apelo, mas ninguém estava próximo o suficiente. Ninguém parecia perceber ou se importar. Não havia mais para onde ir, portas onde bater, amigos a quem procurar, livros para ler, filmes para assistir, sobrou o nada, o vazio, silencioso, triste. Que desgraça maior que a solidão, principalmente para um menino de dezenove anos? Ele não pôde suportar. Não adianta ser honesto e verdadeiro, ter coragem para expor suas vontades se sobraria apenas a decepção, a indiferença, a raiva e a negação de tudo o que um dia foi e nõa é mais. O menino perdeu a fé, a esperança e a confiança em si mesmo. Sentiu-se incapaz, impotente, deficiente. Seu fim? Quem pode dizer? Um dia ele se perguntou se houvera começo. E lembrou-se de como sofre alguém que não pediu pra nascer, luta desesperadamente para ser como os outros mas, no fim, só confirma suas incoerências e , por medo, prefere viver uma mentira fria e escura. Covarde. Pobre covarde! Triste é o fim de quem não tem coragem para se assumir e viver a própria vida ao invés de viver a dos outros.