Há dezenove anos, no estado do Rio de Janeiro, nasceu o menino mais bonito que podia haver para seus pais. Amavam e cuidavam com muito zelo e dedicação.
O menino, com o passar dos anos, ouvia de seus pais que precisa estudar para conseguir um bom emprego e ter uma vida estável: casado, com filhos, cachorro, numa casa própria, gozando a maravilha de sair toods os dias pela manhã cedo para seu trabalho (de preferência no seu próprio carro do ano) e chegar dele à tarde, receber o beijo da mulher, o abraço das crianças, as lambidas do cachorro e assistir à novela meio dorme-não-dorme.
O menino aprendeu com seus pais a importância de ser honesto e verdadeiro, de não esconder suas origens ou negar suas vontades, suas intenções. Diziam que ele sentiria medo, às vezes, mas era preciso enfrentar os problemas com coragem e fé, não perder nunca a esperança e a confiança em si mesmo. Ele era capaz- um ser humano em potencial- sabia oprque ouvia de seus pais.
Tão logo o menino atingiu a idade limite, passagem entre a adolescência e a maturidade, sua mente encheu-se de interrogações. Confuso, foi acometido pelo medo. O ácido medo que corrói, impede, limita, inibe e mata um pouco mais todos os dias.
Que menino é esse que não quer casar? Não pensa em filhos nem pode seguir a mesma profissão do pai porque simplesmente não tem vocação? Nenhum menino que conhecia era assim. e ser diferente significa ser excluído, sacrificado, vítima de todos os preconceitos e ódios. Estava preparado para tudo isso? Não! Era melhor aceitar as exigências da sociedade e viver uma vida medíocre, infeliz, ao lado de quem não ama, com quem não quer, por quem não luta.
Seria melhor mesmo? E desabafar com quem? Que diferença faria? Qual seria a eação das pessoas? Como o tratariam depois de constatar suas diferenças? Ficaria alguém do seu lado? Seus pais? Alguém...?
Não havia ninguém. E o menino ficou durante muito tempo sozinho, inflando dentro de si o desejo de gritar, fazer com que escotassem seu apelo, mas ninguém estava próximo o suficiente. Ninguém parecia perceber ou se importar.
Não havia mais para onde ir, portas onde bater, amigos a quem procurar, livros para ler, filmes para assistir, sobrou o nada, o vazio, silencioso, triste. Que desgraça maior que a solidão, principalmente para um menino de dezenove anos? Ele não pôde suportar. Não adianta ser honesto e verdadeiro, ter coragem para expor suas vontades se sobraria apenas a decepção, a indiferença, a raiva e a negação de tudo o que um dia foi e nõa é mais. O menino perdeu a fé, a esperança e a confiança em si mesmo. Sentiu-se incapaz, impotente, deficiente.
Seu fim? Quem pode dizer? Um dia ele se perguntou se houvera começo. E lembrou-se de como sofre alguém que não pediu pra nascer, luta desesperadamente para ser como os outros mas, no fim, só confirma suas incoerências e , por medo, prefere viver uma mentira fria e escura. Covarde. Pobre covarde! Triste é o fim de quem não tem coragem para se assumir e viver a própria vida ao invés de viver a dos outros.