sábado, 28 de fevereiro de 2009
A voz da igualdade
Ontem, eu assisti ao excelente "Milk- a voz da igualdade", em cartaz nos cinemas, com Sean Penn- perfeito no papel que lhe rendeu o Oscar e dá título ao filme. A história real se passa entre 1970 e 1978, quando o aspirante a cormeciante Harvey Milk, indignado com o descaso e preconceito das autoridades ante as atrocidades cometidas contra a população homossexual de São Francisco, resolve se candidatar a um cargo político para defender os direitos das minorias- mulheres, negros, estrangeiros e gays, principalmente.
Dois aspectos me chamaram muito a atenção no enredo: como algumas coisas mudaram de lá para cá e como outras permanecem as mesmas. Para ambas reflexões, eu digo -Infelizmente.
Infelizmente, religiosos fervorosos ainda acreditam que os homossexuais são desordeiros depravados que tencionam destruir a unidade familiar. Políticos relutam em aprovar leis que garantam plenitude dos direitos civis de homossexuais. Professores são afastados das salas de aula em função de sua orientação sexual e em detrimento de sua capacidade de lecionar. Revistas de circulação nacional publicam capas de casal de homens, militares, porque ainda é polêmico discutir esse assunto. Verdadeiros grupos organizados agridem gays violentamente e, muitas vezes, matam com requintes de tortura. Há discriminação em casa, no trabalho, nas ruas. E os homossexuais continuam se valendo dos redutos criados especialmente para eles, afim de viver o que mais se aproxima de um romance em público. É o relacionamento dos guetos, a vida clandestina dos marginalizados.
Ainda hoje, são realizadas passeatas com a finalidade de buscar igualdade. Mas, em trinta anos, o que mudou é que, agora, elas tem data marcada e deixaram de expressar um rompante de revolta pela reprovação de alguma lei que favoreceria os homossexuais ou pelo ataque agressivo de skynheads a adolescentes gays. Hoje, elas se tornaram eventos de grande vulto e apelo, super produzidos, onde a arrecadação é suspeita e a motivação também. Não há megafones, pessoas em cima de caixotes, multidões atentas aos discursos ou arrepiantes ovações que desmonstram fé e esperança. Mas há trios elétricos, música dançante, propagandas de boates, vendedores de cerveja e muita gente interessada no leque de possibilidades devido ao grande número de pretendentes. Infelizmente.
"Milk"foi apresentado em uma sala quase vazia. Fosse há trinta anos, haveria toda a sorte das categorias classificadas pelas iniciais da sigla que não pára de crescer (GLS, GLBTS, GLBTTS...) fazendo fila na porta do cinema e esgotando ingressos para assistir e conhecer mais de sua inspiradora caminhada.
Os gays mudaram. Os opressores continuam os mesmos.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Tem Mais Samba
Chico Buarque
Tem mais samba no encontro que na espera
Tem mais samba a maldade que a ferida
Tem mais samba no porto que na vela
Tem mais samba o perdão que a despedida
Tem mais samba nas mãos do que nos olhos
Tem mais samba no chão do que na lua
Tem mais samba no homem que trabalha
Tem mais samba no som que vem da rua
Tem mais samba no peito de quem chora
Tem mais samba no pranto de quem vê
Que o bom samba não tem lugar nem hora
O coração de fora
Samba sem querer
Vem que passa
Teu sofrer
Se todo mundo sambasse
Seria tão fácil viver
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Não vou falar do Fábio
Fábio lembra promessas
que eu sei que são vãs
que eu não posso lembrar
Fábio lembra excessos
que eu sei que são péssimos
que eu não quero lembrar
Fábio lembra maldade
que lembra raiva
que lembra vingança
que lembra matar
Não vou falar do Fábio
que lembro do carro
lembro do sábado
do telefone tocar
Fábio lembra a cidade
que lembra a noite
que eu não preciso lembrar
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