terça-feira, 30 de novembro de 2010

Força policial

São tantas coisas para falar e, ao mesmo tempo, faltam palavras... O Profissão Repórter desta terça-feira (30/11/2010) revolta. Sobretudo após as notícias recentes sobre a verdadeira guerra que se estabeleceu esta semana em favelas da Zona Norte do Rio.
Centenas de famílias, mil e duzentos sem teto viviam desde o dia 4 de outubro num prédio ocupado na Avenida Ipiranga- São Paulo. Entre jovens, adultos, idosos e crianças, incluindo-se aí Jéssica, de apenas 4 dias. Três blocos do programa apresentaram a massacrante rotina desses desabrigados que ali se estabeleceram. A procura do difícil emprego que não se concretizava por falta de um comprovante de residência, o trabalho na cozinha que preparava 400 refeições para almoço e 1200 para janta, o trajeto até a escola em que as mães se revezavam para levar todas as crianças, os pedidos de alimentos de porta em porta. Pessoas simples, que sorriam para a câmera não sei de quê, contavam mazelas sem lágrimas e mostravam sua luta por dignidade. Cumprindo aviso prévio, às 5h30min da manhã, 200 homens da polícia isolaram a entrada do prédio e, sob salvas de apito, acordaram os moradores que conseguiram dormir naquela noite, para a chamada "reintegração de posse". Gentilmente, os homens da lei aguardaram até 8h15, para que os café das crianças do prédio estivesse garantido naquela manhã.
Duzentos homens que, naquela mesma hora poderiam estar impedindo um assalto à conveniência do posto de gasolina em outra esquina ou o estupro de uma jovem do outro lado da cidade ou o recebimento de drogas por um traficante perto dali em vez de atender à solicitação de uma poderosa empresa privada. Os moradores saíram do prédio sem resistir e ocuparam calçadas no centro da cidade, abrigando-se sob lonas e, ali mesmo, criando suas crianças. Crianças que vão crescer pedintes, que vão se cansar da falta de oportunidades, que vão conhecer o lucrativo negócio do tráfico e, por consequência, terão vida curta e infeliz.
No Rio de Janeiro, a polícia agiu na heróica retomada de terreno (que poderia já ter acontecido há anos se o Estado realmente tivesse interesse), exaustivamente noticiada nos últimos dias. E eis que surge a "surpreendente" informação: alguns policiais aproveitaram o furdunço para saquear casas, destruir móveis e espancar moradores. Bem trabalho de policial mesmo. 30 toneladas de maconha, 200kg de cocaína, centenas de armas apreendidas e nem 1 real? Vai ser um excelente natal o desse ano, não?
Revolta. É o que me dá. E, faltando palavras, acabo fazendo uso das de uma morada do prédio em São Paulo, que deixou seu último endereço ao som de Vida de Gado: "Sou pequena diante do poder público".
Povo marcado. Povo feliz?

sábado, 30 de outubro de 2010

1.000 km

Entre nós, 1.000 km. Entre estradas de chão e pistas mal pavimentadas. Entre cartões-postais e vistas para esquecer. Entre chuva, neblina e mormaço, gados e lagartos, rios e árvores, dormir e chacoalhar, estamos nos extremos. Eu, da cidade. Você, do interior. Eu, carioca, cara de sulista, de surfista, musicista e afins. Você, índio no rosto e no cabelo, olhos vivos e aparelho na beira do rio em Tocantins. Entre nós, cumplicidade, curiosidade, conversa fiada, limão e sal. Um reconhecimento inocente, o contato displicente, a entrega natural. Não existe preconceito, falta de respeito e isso é o melhor. Por um momento, entre nós, só uma fina camada de suor. E ele vai acelerando a moto. Olhou para trás? E ele sai atravessando as fronteiras, formigando mais e mais. Entre nós, 1.000 km e a vontade que estreita distâncias, rompe as barreiras do espaço. Entre nós, ânsias, tremedeira e cansaço.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Eu disse que sou problema

Este era para ser um blog sobre relações humanas. Mas, nas últimas semanas, tenho me isolado dos outros. Não respondo mensagens, não atendo o telefone, não devolvo recados. Fico sozinho, sem relações. Por isso, não há o que escrever. Este era para ser um blog sobre amor. Mas, além da minha família e amigos, não tenho dado ou recebido amor. Estou para completar 4 anos de uma estranha solteirice. Sem amor. Por isso, não há o que escrever. Este era para ser um blog sobre mim. Mas eu não sou interessante. E não sou fácil de ler. Este era para ser um blog. Mas, se não há o que escrever...

sábado, 21 de agosto de 2010

Só um pouquinho de proteção

Confesso que bateu uma vontade enorme de namorar. De preencher as noites frias com um abraço aconchegante e um suspiro quente ao pé do ouvido. De me sentir acompanhado e companheiro. De ter alguém que me dê momentos de uma sutileza que há muito desconheço. Que me tolhas as liberdades, reclames do meu jeito de dirigir e sintas ciúmes. Que não gostes quando eu saio com meus amigos e se irrites com minhas ansiedades. Que discutas comigo filmes e livros. Que discutamos e façamos as pazes. Que disputes comigo todas as atenções. Quero o bom e o mal do namoro. Deitar acompanhado e dormir sorrindo. Quero o mau hálito de manhã e o domingo preguiçoso debaixo do edredon. Quero não poder tomar todas as decisões. Eu, sozinho, sou um perigo para mim mesmo. Que não demores, não se atrases e que o bem que trazes perdure para, enfim, eu me lembrar.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Tio Chico

Eu não costumo escrever muitas vezes em um curto espaço de tempo. Muito menos sobre o mesmo assunto. Pensei em apenas complementar o texto anterior com algum comentário pertinente sobre meu tio Chico. Daí, me dei conta que uma pessoa tão extraordinária merecia uma postagem exclusiva, além da minha mais sincera oração. E que, além do mais, apesar dos fatos, posso falar de vida e não de morte. Sim. Tio Chico se foi hoje. E, com ele, metade da graça de passear em Recife. Eu morei naquela cidade por onze meses há sete anos atrás. Morei na casa de tio Chico e das filhas dele. A Marinha, motivo real da minha mudança, manteve-me durante três semanas em regime de internato, dentro da escola de aprendizes. Na metade desse percurso, tia Maria, esposa de tio Chico, faleceu de um pós cirúrgico mal sucedido. Eu não pude abraçá-lo e nem às minhas primas nessa ocasião, pois eu só sairia do aquartelamento dali a uns dez dias. Mesmo com todo esse impedimento, cuja solução me fugia às mãos, senti como se faltasse com eles nesse consolo. Todos os fins de semana que passei na casa de tio Chico foram feitos ora de riso, ora de lágrimas. Rosaura me emocionava quando me falava de tia Maria e quando lembrava de como eu era uma criança birrenta e passava as férias por lá. Tio Chico me fazia sorrir alegremente a cada piada que me contava e às vezes eu nem as entendia porque ele já estava ficando vermelho de rir antes mesmo de chegar o desfecho. Ele me recebia quando eu me anunciava no portão, falava baixinho quando achava que eu estava dormindo, preparava suco de laranja e pão assado pra mim pela manhã. Tio Chico cozinhava o melhor cuscuz de milharina com inhame e o melhor chambaril que eu já comi na vida. Parecia que eu tinha chegado para ele num momento em que a casa realmente precisava da presença de alguém diferente. Não que eu pudesse preencher vazios, mas talvez distraísse os pensamentos. Hoje, eu me lembro daquela época e me sinto muito próximo de tio Chico. Homem, com esposa e duas filhas, único homem dentro de casa. O homem da casa. Provedor que trabalhou uma vida inteira para que suas filhas tivessem... o possível. De repente, eu chego. Outro homem. E tio Chico experimentando dividir a casa comigo. Me tratou como se eu fosse um filho. Me amou como se eu fosse um filho. Me amou do jeito que eu sou. Amou tudo o que havia em mim! Hoje, eu chorei, tio Chico. Nem consegui consolar suas filhas, assim como não pude lhe dar aquele abraço. Chorei no telefone com Rosaura e alguns minutos depois. Chorei de saudade e remorso porque lhe dediquei tão pouco tempo, porque nunca lhe pedi um conselho, porque minha timidez, às vezes, me impedia uma aproximação maior. Mas vou tentar ser forte e não voltar a chorar. O sentimento que guardo do senhor não passa nem perto da tristeza, mas sim de muito orgulho, respeito e admiração. E alívio por saber que em nenhum momento o senhor reclamou de dor. Agora que o senhor, finalmente, está na companhia de tia Maria, pode dizer a ela que eu lhe amei como um filho?

domingo, 27 de junho de 2010

Silêncio servindo de amém

Ele chegou cansado no Pronto Socorro. Setenta e sete anos e sabe-se lá quantos idas e vidas ao hospital. Estava recém-operado e sua colostomia sangrava. Tinha dificuldade para respirar e logo começaria a vomitar bile, sujando de líquido amarelo a camisa xadrez. A enfermagem colocou oxigênio com cateter nasal. O coração parou de bater. Chama o médico da UTI. Corta a camisa. Punciona acesso venoso. Corre o soro todo aberto. Um mililitro de adrenalina. Pressão subindo. Alguém conta o tempo. Massagem cardíaca. Dez minutos. Ventila com ambú. Aspira secreção. Luva cirúrgica. Punciona acesso central. Nessa hora não existe técnica. Quinze minutos. Mais adrenalina. Aspira. Troca o soro. Revesa massagem. Aperta o ambú. Atualiza o monitor. Vinte e cinco minutos. Prepara o choque. Gel. Liga e afasta. De novo. De novo. Quarenta minutos... Cheiro forte e os olhos sem vida. E os rostos sem expressão. O médico chama a família para dentro do consultório enquanto a enfermagem prepara o corpo. O paciente vai dentro do saco, da madeira, do camburão. A família chora e a enfermagem sai pra fumar um cigarro.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Os sinos da discórdia

Meus pais cresceram no interio de Pernambuco, no campo, no meio do mato. Correram descalços na areia, furaram os dedos nos espinhos das plantas, banharam-se pelados nos açudes da região. Eles lembram da infância sempre que sentem cheiro de café recém moído ou de chuva caindo na terra. Eu cresci na cidade, no subúrbio do Rio. Não tinha rio perto, mas tinha futebol com bola de meia, tinham meus carrinhos de plástico, meus livros, minha solidão. E eu sempre vou me lembrar da minha infância enquanto houverem pipas no céu, biscoitos de polvilho e Sessão da Tarde. Hoje, no jornal local de Brasília, eu vi uma reportagem sobre uma paróquia no Lago Sul que está incomodando um único vizinho da região. Ora, já vi brasilienses reclamarem do atendimento de garçons, do trabalho de caixas de supermercado e de uma infinidade de insignificantes coisas numa tendência regional extremamente intimidadora que a maioria das pessoas daqui (antipáticas e pseudo politizadas que pretendem ser) tem de falar mal de tudo. Essas mesmas pessoas mantém-se trancadas dentro das suas casas, que ficam dentro de condomínios e saem de manhã dentro de seus carros e passam o dia inteiro dentro de escritórios e isso quando não ficam somente dentro de si mesmas e esquecem que existem todos os outros. Brasília tem as ruas mais largas que eu já vi. É o lugar mais plano que eu conheço. Em alguns pontos da cidade, quase é possível ver horizonte em todas as direções e o céu é tão azul e tão imenso que toda essa amplidão, paradoxalmente, oprime a gente. E, em muito, isso se deve às atitudes de alguns moradores, como o vizinho da paróquia do Lago Sul, que começou com intermináveis reclamações diárias, até que a polícia foi verificar o badalar dos sinos da igreja. Os sinos da igreja! Os sinos que estavam soando alguns decibéis acima do limite permitido pela lei do silêncio. Eles tocam a primeira vez às oito e meia da manhã e a última antes das sete da noite. Agora, "como eu vou diminuir ou aumentar o som de um sino?". Quer saber o padre. E eu também. E ainda pergunto mais: em que outro lugar do mundo o sino de uma igreja pode incomodar alguém ao ponto de se chamar a polícia e gerar uma reportagem com isso? Como pode alguém querer se trancar dentro de casa, dentro de si e não se abrir nem mesmo para o soar de um badalo? O que as crianças de hoje vão fazer da vida se não terão nem mesmo o som de um sino para se lembrarem de suas infâncias?

sábado, 8 de maio de 2010

5 days

São 5 dias úteis na semana- os únicos dois dias inúteis são os que eu mais aproveito. Já passei 5 dias com herpes labial- sim incluindo o fim de semana. Os últimos 5 dias, eu fiquei sem fumar. Muita coisa pode ser dita com relação a isso. 1) Participei de um curso sobre como parar de fumar em 5 dias, uma espécie de "Fumantes Anônimos", onde eu debochei de tudo no dia 1 e, nos seguintes, passei a me envolver com o processo. 2) Fiz esse curso por conta de uma senhorinha que trabalha comigo e que é Adventista. Eu dei minha palavra que iria e fiquei sem fumar muito mais em consideração a ela do que à minha vontade. 3) Conheci pessoas divertidas no curso, que quero levar comigo. São meninas da minha idade, engraçadas, bonitas e já compartilhamos um drama juntos. Isso me cativa muito. 4) A abstinência me deu insônia, ansiedade e uma certeza de que sou capaz de parar... Na hora que me der na telha, por uma vontade minha e não dos outros. 5) O cigarro é como um amante. Eu deixo uma mesa de restaurante, largo meus amigos na pista de dança, me abandono um tempo da minha família só para curtir uns momentos com ele. É sempre na hora que ele quer e meu amante, mais cedo ou mais tarde, vai me trair. Mas eu não posso passar mais do 5 dias sem ele. Não sem meu amante. Não enquanto eu não conseguir um namorado oficial.

domingo, 4 de abril de 2010

Nem que eu subisse no topo do morro mais alto, eu me esqueceria de você. Nem se eu chegasse no canto mais íngreme, na parede vertical da montanha mais pra cima. Nem se eu alcançasse o ponto mais alto do mundo. Nem se eu estivesse tão alto, mas tão alto que a amplidão da mente deixasse a vista turva e eu não pudesse ver. Nem que eu desbravasse o mais gélido pico despovoado. Nem assim, você deixaria de povoar meus pensamentos. Nem com a altitude em quilômetros e o ar rarefeito tampando os ouvidos parcialmente. Nem que não houvesse o que se pensar e fosse apenas eu. Nem assim, eu deixaria de pensar em você

terça-feira, 23 de março de 2010

Foi-se o tempo das incessantes mensagens, das ligações no meio da noite, da necessidade desesperada. Não sinto reciprocidade e não estou mais ardendo em febre. O verão acabou e como em todo bom outono, cai seca no chão e voa com o vento uma coisa boa que tava vivinha ainda há pouco... E a escavadeira do post anterior... hehe, sou eu.

sábado, 20 de março de 2010

A árvore e a escavadeira

A árvore devia ser bem pequena quando construíram a praça em volta dela. Quando eu a conheci, ela já estava bem grande, muito alta, um tronco imponente que quatro pessoas não conseguiriam abraçar. A árvore cresceu por baixo da terra também e suas raízes, fortes raízes, levantaram o cimento em volta. Hoje, três homens quebraram o concreto já bem destruído e uma escavadeira tentou em vão arrancar as raízes que estavam avariando a praça. Por mais que o condutor acelerasse, por mais que enviasse esforços nos comandos da escavadeira, de nada valeu. Na verdade, não foi a árvore destruindo a praça. A praça limitava tanto a árvore que, em determinado momento, concreto e raízes se confundiam na base repleta de fissuras. Árvore e praça viviam bem assim- um acordo, uma conveniência já que não havia outro jeito. A árvore chegou primeiro e a escavadeira quebraria suas pás mas não conseguiria salvar a praça. Pelo menos a escavadeira tentou. UPDATE: A escavadeira saiu de cena, a árvore continua lá e os homens estão destruindo a praça...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Fumando, espero

Arrumar o armário é como limpar a alma das coisas idas ou refrescar a memória das boas saudades. Joguei um monte de coisa no lixo e saboreei delícias do meu passado. Entre elas, um cd de músicas que um antigo rápido amor me deixou com músicas, textos e poemas. Foi bom ler e ouvir, mas senti uma dorzinha de prazer ao imaginar que ainda tenho tempo para voltar pr'aquilo... O Vinícius foi um grande amigo do teatro. Depois do fim do curso, nos encontramos algumas vezes por puro acaso e, nessas ocasiões, conversávamos bastante sem nunca nos revelarmos inteiramente. Até que nos encontramos numa festa e eu esqueci que amizade era a nossa e passei a querê-lo com todas as forças. Deu-se início a nossa ciranda de desencontros: eu tinha dado um tempo no meu namoro, mas o Vinny estava firme e forte com alguém. Depois, o Tony voltou e o Vinny tinha terminado seu relacionamento. Era como sempre estarmos na contramão um do outro. Eu fiquei com os dois! Não larguei o Vinícius por completo. Mas também não fui dele por inteiro e o magoava todas as vezes em que não o encontrava porque meu namoro tinha suas prioridades. "Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele!" Sentia culpa e me entregava em seguida, ou vice e versa. O saldo disso tudo é que o Vinícius ficou com medo depois que me mudei para Brasília e sumiu do mapa. Se afastou mesmo, não respondia recados, não atendia o telefone e eu esqueci. Quatro anos se foram e, arrumando meu armário, um cd me força a lembrar que existe um Vinny todo especial que nunca viveu de verdade comigo e mando um e-mail super sóbrio com um dos textos do cd que ele fez em anexo. Só pra ele se lembrar também. E a resposta não foi nenhum "viveram felizes para sempre", mas, mesmo assim bem animadora. Ele está namorando (e eu não), como era de se esperar. E daí, entre tantas coisas que foram para o lixo, está essa minha mania de esperar. De esperar o Tony se arrepender de ter me deixado, esperar que ele toque a campanhia morto de remorso implorando o meu perdão, esperar que o seu curso acabe e que ele venha fazer uma visita. Esperar não é igual a uma esperança saudável. No que se refere ao Vinícius, prefiro agir.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Mensagem de carnaval

Lembrei-me hoje de um carnaval há uns dois anos. Eu fui na cozinha procurar o que comer e meu amigo Buta na sala mexendo no twitter. Daí que eu encontrei na geladeira metade de uma tort Miss Daisy que jazia há semanas atrás de uma sacola com repolho e queria saber se a torta ainda estava boa. Fui na sala e ofereci: -Buta, vc já provou dessa torta Miss Daisy? -Não. -Nossa, é muito boa. Você tem que comer isso. (Enchi uma colher e dei na boca dele) -Hummm (fazendo cara de agrado) muito boa hein? Eu comecei a rir descontroladamente e confessei que meu objetivo era ver se a torta ainda não tinha passado. Ele riu muito e eu peguei uma colherada cheia e botei na boca. Nunca comi nada mais azedo na face da Terra. Cuspi na bandeja da torta e fiquei com ânsia uns bons dez minutos. Moral da história: nesse carnaval, não vou gozar na cara dos outros, senão vou acabar com a cara gozada!

domingo, 17 de janeiro de 2010

Foi esse sonho em que eu estava na casa da minha mãe, mas era a minha casa também. E o passado se misturava com o presente. Eu tinha a mesma idade e aparência de hoje e me arrumava pra ir à escola. No portão, meus amigos de infância me esperavam e ligavam no meu celular para que eu me apressasse. A Jeane tnha dormido escondida no meu quarto- minha mãe não gostaria de tê-la ali. Os meus pais não apareceram. Eu arrumei depressa as últimas coisas na bolsa do colégio- que ganhei realmente há uma semana. Estava atrasado. Estou mesmo meio atrasado na vida. Não era assim que eu me imaginava aos 25 anos. Rumei para o portão e pulei a grade em vez de cruzar a passagem, como sempre fazia quando era pequeno, e me veio uma sensação estranha, meio nostálgica mas sem saudade. Era uma certa tristeza porque percebi nessa hora que todas as coisas já tinham ido, nada mais aconteceria, todas as oportunidades já tinham passado. Subi a ladeira com meus amigos com muita dificuldade. Minhas pernas fracas, meus joelhos e calcanhares quase não respondiam meus comandos e eu precisei me agarrar às raízes que se espalhavam pela rua pra conseguir impulso.. No topo, encontramos o Bill e ele me criticava por conta da minha alimentação e porque fumo demais. Foi quando eu me vi magro e envelhecido. Estava doente e a única coisa que eu fazia era rir do Bill enquanto procurava um cigarro.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Eu me irrito com a saudade que sinto da Valéria. Com a falta de cumplicidade entre mim e minha solidão. Com o ócio que não me permite sequer ser criativo. Com meu pouco talento e o tanto de trabalho que vejo à frente. Eu me irrito com os que já foram e com a demora dos que ainda não vieram. Com os desejos inférteis. Com o medo que tenho da vida não chegar a ser plena. Eu me irrito comigo e nem comigo posso protestar.