domingo, 27 de junho de 2010

Silêncio servindo de amém

Ele chegou cansado no Pronto Socorro. Setenta e sete anos e sabe-se lá quantos idas e vidas ao hospital. Estava recém-operado e sua colostomia sangrava. Tinha dificuldade para respirar e logo começaria a vomitar bile, sujando de líquido amarelo a camisa xadrez. A enfermagem colocou oxigênio com cateter nasal. O coração parou de bater. Chama o médico da UTI. Corta a camisa. Punciona acesso venoso. Corre o soro todo aberto. Um mililitro de adrenalina. Pressão subindo. Alguém conta o tempo. Massagem cardíaca. Dez minutos. Ventila com ambú. Aspira secreção. Luva cirúrgica. Punciona acesso central. Nessa hora não existe técnica. Quinze minutos. Mais adrenalina. Aspira. Troca o soro. Revesa massagem. Aperta o ambú. Atualiza o monitor. Vinte e cinco minutos. Prepara o choque. Gel. Liga e afasta. De novo. De novo. Quarenta minutos... Cheiro forte e os olhos sem vida. E os rostos sem expressão. O médico chama a família para dentro do consultório enquanto a enfermagem prepara o corpo. O paciente vai dentro do saco, da madeira, do camburão. A família chora e a enfermagem sai pra fumar um cigarro.

2 comentários:

Não importa disse...

Glup... Me "depressionou". Aposto q tbm te deixou pra baixo qdo aconteceu.

André Aires disse...

Honestamente, Sentilavras? Nesse mesmo plantão um menino de 6 anos chegou convulsionando e a mãe dele disse que ele tem esse problema desde o 2 anos de idade. Isso me amocionou mais.